terça-feira, 5 de agosto de 2014

Após a Ressurreição dos Corpos, plantas e animais não mais existirão, os astros do céu não se movimentarão mais.

POR: COMPÊNDIO DE TEOLOGIA - SÃO TOMÁS DE AQUINO.

QUAIS AS CRIATURAS QUE SERÃO RENOVADAS, E QUAIS AS QUE
PERMANECERÃO COMO AGORA.

1 — Deve-se ainda considerar que os diversos gêneros de criaturas corpóreas, segundo
razões diversas, ordenam-se para o homem.
Sabemos que as plantas e os animais servem ao homem, auxiliando-o na fraqueza, enquanto
este recebe deles o alimento, as vestes, o transporte e coisas semelhantes, pelas quais as deficiências
humanas são remediadas.
No estado final, porém, toda essa fraqueza será — pela ressurreição — afastada do homem.
Ele não terá mais necessidade dos alimentos para se nutrir, porque estará então incorruptível, como
vimos; nem de vestes para se cobrir, porque vestir-se-á da claridade da glória; nem de animais para
o transporte, porque será ágil; nem de remédios para conservar a saúde, porque será impassível.
Portanto, é conveniente que no estado de última consumação não permaneçam tais criaturas
corpóreas, isto é, as plantas, os animais, e outros corpos mistos semelhantes.
2 — Quanto aos quatro elementos — fogo, ar, água e terra —, sabemos que eles se ordenam
para o homem, não só para o exercício da vida corporal, mas também para a própria constituição do corpo humano, porquanto o corpo é constituído desses elementos. Desse modo, os elementos
ordenam-se essencialmente para o corpo humano. Por isso, na consumação do homem no seu corpo
e na sua alma, é conveniente que esses elementos também permaneçam, mas mudados para melhor
condição.
3 — Quanto aos corpos celestes, eles não são assumidos em sua substância pelo homem,
nem para o uso da vida corruptível, nem entram tampouco na constituição do corpo humano. Contudo, servem ao homem enquanto pela sua beleza e grandeza revelam a existência do Criador. Eis
porque, constantemente, nas Escrituras, o homem é convidado a contemplar os corpos celestes, para
que, por meio deles, seja conduzido à reverência divina, como se pode ler em Isaías: "Levantai os
olhos para o alto e contemplai quem criou estas coisas" (Is 40,26).
Não obstante o homem no estado daquela perfeição não seja levado pelas criaturas sensíveis
ao conhecimento de Deus, vendo então Deus em si mesmo, contudo será alegre e deleitável ao que
vê a causa reconhecer no efeito, resplandecente, a semelhança dela. Eis porque será alegre para os
Santos a consideração do reflexo da bondade divina nos corpos, máxime nos corpos celestes, os
quais se antepõem aos demais.
Os corpos celestes têm também uma certa ordenação essencial para o corpo humano, isto é,
sob o aspecto de causa agente, como os elementos a têm, sob o aspecto de causa material. O homem
gera o homem por influência do sol, e, por esse motivo, é também conveniente a permanência dos
corpos celestes.
4 — Que esses corpos celestes sejam conservados, isso torna-se evidente não só pela
comparação deles com o homem, mas também pela consideração da natureza das criaturas
corpóreas de que falamos.
5 — Aquilo que por nenhum aspecto é incorruptível não deve permanecer naquele estado de
incorruptibilidade. Ora, os corpos celestes são incorruptíveis no todo e nas partes; os elementos, no
todo, mas não nas partes; o homem, só em uma parte, isto é, na alma racional, mas não no todo, já
que o composto desfaz-se pela morte. Os animais, as plantas e todos os corpos mistos não são
incorruptíveis nem no todo, nem nas partes. Assim sendo, permanecerão de fato naquele último
estado de incorruptibilidade os homens, os elementos, os corpos celestes, mas não os animais, as
plantas e os corpos mistos.
6 — Verifica-se que tudo isso é razoável, se considerarmos a natureza do universo, sendo o
homem parte do universo corpóreo, na última consumação deve o universo corpóreo permanecer,
pois a parte não é perfeita senão no todo. O universo corpóreo não pode permanecer, sem que suas partes essenciais também permaneçam. Ora, são suas
partes essenciais os corpos celestes, os elementos, porque por eles é constituída a máquina do
mundo.
Os outros seres não se apresentam como pertencentes à integridade do universo corpóreo,
mas como seu ornamento e embelezamento maior, o que convém ao estado de imutabilidade, no
qual os animais, as plantas e os corpos minerais são gerados pelos corpos celestes, como agentes, e,
pelos elementos, como matéria. No estado de consumação final
será dado aos elementos um outro
ornato que corresponda ao estado de incorruptibilidade. Permanecerão, portanto, naquele estado, os
homens, os elementos e os corpos celestes, não, porém, os animais, as plantas e os seres minerais.

CESSARÁ O MOVIMENTO DOS CORPOS CELESTES.

1 — Mas como os corpos celestes movem-se continuamente, pode a alguém parecer que se a
substância deles permanecer, deveriam ter eles movimento, naquele estado de consumação.
Isso até poderia parecer razoável, se o movimento dos corpos celestes se realizasse pela
mesma razão pela qual se movimentam também os elementos. O movimento próprio dos elementos
dá-se, nos corpos pesados ou leves, para que eles atinjam a perfeição. Eles tendem pelo seu
movimento natural para o lugar conveniente a cada um, onde melhor devem estar. Portanto, no
estado de consumação final, cada elemento, e cada uma das suas partes, estarão no lugar devido.
Mas isso não pode ser dito dos corpos celestes, porque o corpo celeste não estaciona em lugar
algum que atinja, pois, como naturalmente se move para uma direção, também naturalmente dela se
desvia.
Assim sendo, não irá faltar algo aos corpos celestes se o movimento for-lhes tirado porque o
movimento não lhes é necessário para que atinjam a perfeição.
2 — É também ridículo afirmar que, como o corpo leve por sua natureza move-se para cima,
assim também o corpo celeste deva por natureza mover-se circularmente, movimento proveniente de um princípio ativo. É
sabido que a natureza tende sempre para a unidade. Por isso, aquilo, que por sua natureza repugne à
unidade, não pode ser o último fim da natureza. Ora, o movimento repugna à unidade, enquanto o
corpo movido comporta-se de modos diferentes durante o movimento. A natureza não produz o
movimento para o próprio movimento, mas o causa visando um termo, como o corpo leve, por
natureza, tende, ao subir, para um lugar acima, e, do mesmo modo, os outros corpos.
Como o movimento circular do corpo celeste não se dirige para um ponto determinado, não
se pode dizer que o movimento circular de um corpo seja devido a princípio natural ativo, como
esse princípio é causa do movimento dos corpos pesados e leves. Portanto, permanecendo a mesma
natureza dos corpos celestes, nada impede que ela entre em repouso, não obstante ser impossível ao
fogo entrar em repouso fora do próprio lugar, permanecendo na sua natureza própria.
3 — O movimento do corpo celeste é dito natural, não por causa do princípio ativo do
movimento, mas porque o próprio ser movido possui aptidão para ser movido, devendo-se concluir
daí que o movimento do corpo celeste deve ser causado por alguma inteligência. Como, porém, a
inteligência não move nada a não ser entendendo um fim, deve-se indagar qual seja o fim do
movimento dos corpos celestes.
Sendo, com efeito, o movimento, tendência para a perfeição, ele não pode, por natureza, ser
o fim, mas é mais, por natureza, tendência para o fim.
Do mesmo modo não se pode dizer que a mudança de situação seja o termo do movimento
do corpo celeste, de modo que ele se movimente para estar em ato em um lugar para o qual estava
em potência, porque isso iria ao infinito. Ora, sabemos que repugna ao infinito o atributo de fim.
4 — Somos, então, forçados a indagar qual seja o fim do movimento dos corpos celestes. É
sabido que todo corpo movido por uma inteligência é seu instrumento. O fim do movimento do
instrumento é a forma concebida pelo principal agente, que é reduzida a ato pelo movimento do
instrumento. A forma concebida pela inteligência divina, conseguida pelo movimento celeste, é a
perfeição das coisas, por via da geração e corrupção. O último fim da geração e da corrupção é a forma nobilíssima, isto é, a alma humana, cujo fim
último é a vida eterna, como vimos acima. Por conseguinte, o fim último do movimento do céu é a
multiplicação dos homens que devem ser criados para a vida eterna. Ora, essa multidão de homens
não pode ser infinita, pois a intenção de qualquer inteligência tem como termo algo finito.
5 — Assim, estando completo o número dos homens criados para a vida eterna, e estando
eles gozando dela, cessará o movimento do céu, como cessa o movimento de qualquer instrumento
ao estar a obra terminada. Cessado o movimento do céu, conseqüentemente cessará o movimento
dos corpos inferiores, com exceção do movimento que haverá na alma humana. Assim, todo o
universo corpóreo terá outra disposição e outra forma, conforme se lê na Primeira Carta aos
Coríntios: "Passará a figura deste mundo" (I Cor 7,21).

Um comentário:

  1. Gostaria de saber por favor , da explicação de são tomas de aquino apenas o ultimo capitulo - a saber o quinto . O universo físico segundo algumas teorias cosmológicas dão-lhe um fim , ex: o big-rip e o big -frezze ; é possível conciliar estas teorias com o que o santo explica?

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